sábado, 24 de abril de 2010

"Eu não sei na verdade quem eu sou"

"Eu não sei na verdade quem eu sou,
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Por que a gente é desse jeito
Criando conceito pra tudo que restou?"
    
O Teatro Mágico
    
Quem sou eu? Quem-sou-eu. Eu não sei dizer quem eu sou. Eu sou várias. Sou ambígua. Sou antítese. Quem sou eu? Eu não sei na verdade quem eu sou. Eu sou uma tentativa. A tentativa de me decifrar. Eu sou o emaranhado de outras tantas perguntas que se tece dentro de mim ao desenrolar da pergunta 'Quem sou eu?', fazendo-me um novelo de perguntas, costurando em mim dúvidas. Eu sou as respostas que não respondem minhas perguntas, deixando a costura sem arremate. Eu sou a pergunta que sem resposta vaga tonta no ar equilibrando-se na corda bamba da não-resposta. Eu sou a vastidão do não-entendimento e a limitação do entendimento. Eu sou a fronteira entre o não-entender e o entender. Eu sou o conhecimento do desconhecido. Eu sou as minhas procuras e os atalhos que pego tentando me encontrar. Eu sou meus tropeços e cada vez que me ergui. Eu sou meus começos e recomeços. Eu sou a incompletude que me completa e o vazio que me preenche. Eu sou a presença das minhas ausências e a falta de sobras. Eu sou a fome que me alimenta, a sede que me embebeda, a inquietude que me acalma, a loucura que me elucida. Eu sou os pensamentos que tento verbalizar. Sou aqueles pensamentos que verbalizei e aqueles que não verbalizei e que ficaram tagarelando dentro de mim. Sou as palavras que tentam inutilmente me palavrear. Sou o dito e o não dito. Sou o grito que sufoquei, embora esse continua gritando dentro de mim. Sou o grito que ecoei, embora esse tenha sido um grito mudo. Sou o silêncio que compõe calmaria em mim e o silêncio que dialoga comigo tempestade. Eu sou a lágrima que banha minha face e a lágrima que inunda o coração. Eu sou o riso que desenha Sol entre os lábios e o riso que pincela arco-íris na alma. Eu sou o passo que não cansa e o desejo de continuar caminhando. Eu sou a nuvem cinzenta que empalidece o olhar e a fé que pinto em cada sonho meu. Eu sou a tristeza que poda meu riso e a semente de felicidade que cultivo no jardim das coisas singelas. Eu sou o cansaço nos ombros e o horizonte que se enlarguece diante de mim. Sou saudade, lembranças, medos, alegrias, tristezas, descobertas, sonhos interrompidos, planos desfeitos, promessas não cumpridas, juras de amor quebradas, amores mal resolvidos, ilusões partidas. Sou cada pedaço meu que deixei para trás. 'Quem sou eu?' Eu não sei na verdade quem eu sou. Talvez a minha resposta seja a pergunta. Talvez a minha confissão seja o mistério. Eu não sou passiva de ser decifrada, esse é o meu segredo. Mas 'Quem sou eu?' Eu não sei na verdade quem eu sou. Talvez eu seja só uma busca por mim. Talvez eu seja só um desencontro entre mim e eu. Eu não sou o ponto-final em mim, eu sou vírgula, exclamação e sobretudo a interrogação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Dance com as palavras!