domingo, 7 de novembro de 2010

Meus olhos estão com saudade dos teus

"E por falar em saudade onde anda você
Onde andam seus olhos que a gente não vê [...]"

Vinicius de Moraes

Em cada esquina paro em cada olhar a procura do teu e me perco nessa busca sem fim, e me perco na multidão de faces anônimas à memória e me perco numa íris cor da noite, assim como a tua, e mergulho noutro olhar em busca da constelação de estrelas faiscantes que os teus olhos flamejavam e me afogo a procura da tua pupila costurada com o mesmo tecido acetinado da Lua, a procura de cometas viajantes e me empoeirar no rasto de pó cintilante. Desiludo-me. Um olhar parecido com o teu, mas não era o teu, eu soube por que não vi cair a chuva de estrelas cadentes, não me banhei com suas gotículas de luz, não vi a Lua Cheia que a tua pupila estampava, me iluminando. Cometas não riscavam com suas caudas em chamas o céu noturno desse olhar. E em meu olhar não se acendeu um fogaréu com as labaredas do teu. Eram olhos de noite também, mas esses da noite tinham somente o breu.
Carregavas no semblante olhos de uma noite quente de Verão. Os olhos que vi essa noite atravessavam um longo e soturno Inverno, eu diria até que esses olhos eram uma mescla de Outono e Inverno - a nudez do Outono com a solidão do Inverno. Olhos cansados. Os teus estavam em frenesi constante como borboletas coloridas num jardim durante a Primavera. Os olhos que vi essa noite eram galhos desnudos agasalhados por uma aragem fria.
Eu emergi do mergulho na ilusão 'inda a procura dos olhos teus. Abandonada numa esquina qualquer desejando o afago do teu olhar na minha face. Ah, moço onde andas tu? Venhas podar essa saudade que os meus olhos tem dos teus. Venhas semear noite constelada no meu olhar, minhas estrelas só florescem quando regadas pela luz das tuas, e eu fico a ti procurar em outros olhares enquanto cultivo tua imagem na memória.
Não demores, moço. Não deixes que o tempo nuble o meu céu, mas cá dentro me pergunto se aquele era o teu olhar, se o tempo nublou o céu do teu olhar...
Meus olhos serão noite nublada sem os teus, nem sequer uma nesga de luz deles escapará.