segunda-feira, 12 de abril de 2010

Estrada

"Você não sabe
O quanto eu caminhei
Pra chegar até aqui
Percorri milhas e milhas
Antes de dormir
Eu nem cochilei
Os mais belos montes
Escalei
Nas noites escuras
De frio chorei..."
Cidade Negra
Levo no corpo a poeira das tantas estradas por onde caminhei. Na face, as marcas de Sol. Nos olhos, o cinza dos dias nublados. Nos lábios, os pingos da chuva que vez em quando borra o céu azul. Nos cabelos, fios de escuridão tecendo uma noite sem estrelas. Levo na pele os arranhões do toque áspero do vento seco. Nos ombros, o cansaço da viagem que não cessa. Nas mãos, as feridas dos espinhos e pedras que colhi. No coração, as curvas da estrada por onde quase deslizei. Nos pés, o desejo de continuar caminhando, porque enquanto eu tiver as estradas não descansarei nem ficarei à margem dela. Enquanto eu tiver as estradas meu destino será a caminhada e se as estradas estreitarem-se, saberei alargar meus horizontes com o Sol que tentou queimar minha fé. Nenhum traço da viagem marcará em mim a desesperança. E se as estradas desaparecerem, saberei construir uma estrada nova com as pedras que me acertaram. Nenhuma subida íngreme fará com que eu desista de caminhar. A poeira dessa estrada será minha armadura. A um feixe de luz do Sol, me agarrarei para colorir com amarelo-ouro os dias cinzentos, banhar com pingos de luz os dias de chuva e iluminar com brilho as noites sem estrelas. Dançarei com o vento e deixarei que ele me leve quando eu não souber para onde quero me levar. Vou respirar o cansaço, sentir a vida sendo inalada por mim e percorrendo as avenidas, ruas e becos do meu corpo até chegar ao coração, fazendo-o pulsar vida. Com os espinhos e pedras que colhi, semearei esperança, cultivando outros sonhos. E as curvas dessa estrada só me farão enxergar por um novo ângulo a beleza da caminhada impulsionando meus passos para continuar caminhando...
A estrada está aí, esperando a companhia dos meus pés, a viagem é por conta deles. Que eu não me canse nunca e que a parada seja breve, só para repousar, porque a caminhada não se faz sem o caminhante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Dance com as palavras!