quinta-feira, 18 de março de 2010

Outra vez solidão

"[...] Sensação de confinamento outra vez, minha pele, minha casa, paredes, muro, tudo me poda, me cerca de arame farpado."
   
Adélia Prado
   
À Lua Minguante - delgada e pálida debruçada na minha janela, recortada contra um manto cinza cobrindo o céu esmorecido, peço um sereno de estrelas cadentes flamejantes, riscando o céu com chamas de luz, incendiando o horizonte com brilho, fazendo arder meu peito em desejos. E para cada estrela em chamas que cruzasse o céu, eu pediria a ausência dessa solidão que me acompanha desde sempre - dia e noite ela está presente me presenteando com sua solitária companhia, rasga a aurora, invadindo meu dia, adentra à tarde, passeando inquieta pela noite, atravessa insone a madrugada, rasgando outra vez a aurora. Solidão, companhia que se fez a mim fiel. E a solidão me mastiga com seus dentes ávidos, me parte, me quebra, arranca pedaços de mim, me engole a seco, e eu morro sendo nela. Solidão me encurrala dentro de mim, me contorna com suas paredes tão altas que eu não consigo me ver. Solidão me confina com meus limites, me fazendo pequenina, menor do que sou. E eu me trancafio nessa clausura fechada a sete chaves. Solidão me prende nessa prisão feita por mim. E esse muro de concreto me cerca, me cega, me emudece, me ensurdece, me paralisa, me faz concreto e cerca de mim.
Solidão me desapossa da minha liberdade.
Nuvens carregadas de tristeza encobrem a Lua - o único fio de luz que iluminava meu quarto apaga-se. O manto acinzentado que se desenrolou sobre o céu não se embrulha. E o céu permanece esmorecido. Uma chuva fina começa a cair, embaçando o vidro da janela. Uma chuva de solidão também embaçou minha alma. Eu vou me banhar na chuva lá fora porque a chuva de dentro não me lava, talvez a chuva que cai lá fora lave a minha alma e leve embora essa solidão.

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