"Ela desatinou, viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira, bandeiras se desmanchando
E ela inda está sambando
Ela desatinou, viu morrer alegrias, rasgar fantasias
Os dias sem sol raiando e ela inda está sambando..."
Chico Buarque
Mais uma vez a lembrança daquele Carnaval faz folia na memória. Minha memória é uma larga avenida colorida por onde desfilam dançantes e frenéticas lembranças ao som da batucada da bateria ritmada desse coração. Lembranças empoeiradas de um Carnaval de cinzas. Eu me visto com a velha fantasia, a fantasia de felicidade que se rasgou ficando em trapos e o tempo desbotou. A fantasia amarelecida de ontem. E eu me enfeito do que já não somos nós. E me maquio com um riso, mas como maquiar estrelas no céu escuro e nublado de um olhar? Como pintar a face pálida com o corado da emoção? Com que pincel se traçam os sonhos? Que cor refaz o que o tempo desfez? E eu me enfeito com uma alegria triste. O confete e a serpentina é uma chuva de tristeza e a purpurina é lágrima que ilumina a face com um brilho ofuscante. O colorido é preto e branco. A canção ficou esquecida nos tamborins de outro Carnaval. O bloco é da saudade.
E eu tento varrer a poeira rebrilhante da memória, mas aquele Carnaval não tem fim cá dentro. E eu fiquei cantando saudade, sambando lembranças...
A fantasia se rasgou, desbotou, o encanto se quebrou, o confete e a purpurina para longe o vento soprou, a purpurina a água lavou, o colorido esmoreceu, a canção nunca mais tocou, mas eu fiquei cantando saudade, sambando lembranças.
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