"Se eu chorasse
Talvez desabafasse
O que sinto no peito
E não posso dizer..."
Paulinho da Viola
Talvez desabafasse
O que sinto no peito
E não posso dizer..."
Paulinho da Viola
O Sol levantara-se no horizonte bocejando, parecia ainda meio sonolento, talvez tenha passado uma noite insone lamentando-se por aquele verão nublado, ou talvez uma noite recordando lembranças que guarda dos poucos, porém eternos encontros com a Lua, ou talvez uma noite de vigília à espera de um novo encontro com sua amada. Estava ausente do amarelo-ouro bonito de sempre, um Sol amarelo desbotado. Ausente também da alegria de todas as manhãs, espreguiçou-se inutilmente, queria ficar debruçado no horizonte. Ao fundo do Sol esmorecido, um céu azul-esverdeado encoberto por nuvens espessas mal humoradas. As nuvens mesclavam nuances de ira e melancolia. A manhã acordou pincelada com tons de cinza e muda. Muda do canto dos pássaros. Ausente do vôo colorido dos beija-flores e do balé das borboletas. As flores não abriram seus botões para o dia, permaneceram dormindo aconchegando suas pétalas umas nas outras. O céu amanheceu com vontade de chorar, querendo iluminar-se com pingos de chuva. E naquela manhã o Sol também desejou um banho de chuva para levar aquela tristezinha. Não demorou muito e um cheiro de chuva soprou o vento, misturando-se ao perfume açucarado das flores, os primeiros pingos começaram a cair vagarosamente, uma chuva de pequenas estrelas compostas de água. Um barulho de pedrinhas estalando e escorrendo pelas ruas. Respirei fundo e desejei ser chuva...
Queria ser chuva para esvaziar-me da vontade contida de chorar. Queria ser chuva para esvaziar-me da dor aprisionada no peito. Queria ser chuva para esvaziar-me da tristeza encoberta com alegria desgastada. Queria ser chuva para esvaziar-me dos gritos que morreram sufocados na garganta. Queria ser chuva para esvaziar-me dos silêncios que congestionam meu olhar.
Desejava banhar a alma numa chuva de lágrimas, arrastar as impurezas em ondas de choro, inundar o peito afogando as mágoas, limpar as cicatrizes, umedecendo as feridas por baixo. Lavar a face, deixar escorrer o riso triste, saborear o sal da lágrimas para depois redescobrir o doce nas pequenas alegrias. Desejava transbordar-me... E assim como o céu que após a chuva enfeita-se com um arco-íris multicolorido, meus olhos após choverem também iriam colorir-se outra vez... O choro levaria embora todo o amontoado de sujeira que guardo no peito.
ei bela flor, tem selinho pra você no blog ;*
ResponderExcluirAaah, ser chuva deve ser triste...
ResponderExcluirQuero ser é sol !
beiijos.
querer ser chuva para se esvaziar...
ResponderExcluirmuito bonito isso.