segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Memória

"O que a memória ama, fica eterno. Te amo com a memória, imperecível."

Adélia Prado

E basta o peito nublar-se com uma saudade tua para serenarem lembranças, borrando a memória com velhas recordações. Eu me banho no sereno de lembranças do que fomos. Passa o tempo e não desbota nem as lembranças mais antigas e quanto mais velhas, mais vivas. A minha memória é um relógio com ponteiros girando no sentido contrário. Passa o vento e não leva nem as lembranças mais leves e as mais pesadas nem os ventos raivosos arrastam. Tuas lembranças estão presas a mim por grampos de eternidade. A minha memória é brisa à beira mar soprando lembranças em minha direção. Passa o esquecimento e nem a sobressaltos de indelicadeza arranca teu nome da memória, e quando penso que te esqueci vem outra lembrança tua dançar na memória. A minha memória esvoaça lembranças dançantes sempre ao som da mesma canção.
Não há outono que desfolhe essas lembranças da memória. Reminiscências de recordações que não desbotam, que não envelhecem. Não há inverno que congele a minha memória. Esquecimento que não cobre com sua neve escura a minha memória.
Como a primavera, a minha memória está sempre florescendo lembranças coloridas. Primavera de cores desbotadas, céu azul caramelado. Como o verão, a minha memória está sempre rebrilhando lembranças de Sol. Verão nublado, Sol envelhecido.
Carrego a memória empoeirada com lembranças faiscantes.
A minha memória é uma alameda de lembranças verdejantes. As minhas lembranças caminham na contra mão do presente. Ruas, vielas, becos congestionados com recordações inquietas. Recordações que não cansam, que não adormecem.
E na minha memória eu e tu ainda somos nós. Guardo engavetada na memória no canto mais bonito as nossas melhores lembranças. Coleciono pedaços de Sol, retalhos de mar, recortes de céu, um punhado de estrelas. Um saco bem cheio de fins de semana a dois, beijos demorados, abraços sob Lua cheia, risos largos, olhares estrelados, toques acetinados, canção cantada ao pé do ouvido. No bolso uma porção de palavras açucaradas, gestos de veludo, promessas rumo à eternidade, planos de alcance ao futuro, sonhos de verão. Um amontoado de lembranças nubladas de tempo. Eu gosto do que não é mais, e o que ainda é só passarei a gostar quando deixar de ser. Vivo debruçada no passado da minha vida.
Eu te eternizei na minha memória. Nossos olhares emoldurados com risos largos enfeitam a parede da memória. Eu e tu sem hífens de distância, sem reticências de saudade, sem ponto de fim, mas de recomeço. Pra sempre, juntos na memória. Porque recordar é dar cor novamente aquilo que passou...

3 comentários:

  1. Eu queria escrever assim que nem você. *.*

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  2. "Reinventei o passado para ver a beleza do futuro." - Louis Aragon.

    Entendo que certas lembranças são impossíveis de serem arrancadas da memória, pois desejamos tê-las pra sempre conosco, até mesmo numa tentativa de que elas deixem de ser apenas lembranças.
    Mas o presente e o futuro estão aí, diante dos nossos olhos, esperando a nossa apreciação, enquanto o passado já se afastou acenando seu adeus.

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  3. morri de inveja de você, a começar por esse seu cabelo HAUFHAUF, tá, eu fiquei um bom tempo olhando pra essa foto, e esse foi um dos motivos pra clicar no seu nome, e claro, seu nome, eu amei ! parece aqueles nomes antigos, sempre achei um charme nome assim, e claro, suas palavra, tocaram minha alma, eu juro, segui aqui, é claro

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Dance com as palavras!