"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?"
Cecília Meireles
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?"
Cecília Meireles
Aproximei-me tontamente do espelho, atravessando a solidão da sala vazia. A estranhesa. O susto. A expressão de espanto. Não reconheci o reflexo que apresentava o espelho.
Um reflexo anônimo de lembranças.
Permaneci atenta ao reflexo desconhecido, presa à imagem delineada de segredo, envolta de procura.
Um vulto cinza, magro. Havia rugas no olhar. Na face, sulcos lavrados por lágrimas de sal. Vincos de dor. Linhas de ilusão acentuadas por marcas de rancor. Lábios imóveis, pálidos de riso, feridos pelos espinhos de outros lábios. Um corpo esguio encurvado de fracasso, equilibrando-se nas pernas bêbadas de incerteza. Mãos vazias de desejo, entupidas de dureza.
De repente, outra vez a estranhesa. O susto. A expressão de espanto. A revelação: - O reflexo no espelho era meu!
Lembranças esvoaçaram na memória. Os olhos nublaram. Uma chuva de lágrimas inundou a face, lavrando sulcos mais profundos. A dor desenhou vincos na face contornados por linhas de ilusão, marcando a face com um bordado de desventura. A chuva que caíra umedeceu os lábios com aspereza. O corpo encurvou-se de sofrimento. As mãos banharam-se de tristeza.
- Meu Deus, envelheci cedo demais...
Será que há alguma maneira de desenvelhecer?
Lindo esse texto! O jogo de palavras, tudo...
ResponderExcluirBeijo
Lago sereno é o teu olhar, aguás da vida que refletem meus sonhos. Sonhos que vão no curso das pequenas ondas. À deriva de tua margem. Reflexo que não reconheço. Fria imagem que não me pertence. Sou eu, não me reconheces? Aquele que te espera eternamente, que te vigia na torre de teu castelo encantado. Ansioso por um gesto, por uma doce palavra. Dispessa a cegueira que separa a comunhão. Permite meu reflexo verdadeiro, quebra o espelho turvo. Assim espero-te, por entre os prismas de teu coração, na fraca espera de me veres. Intensamente teu.
ResponderExcluir"Viajei céus e planetas
ResponderExcluirVim de longe pra te encantar
Sim, eu sonhei ser tua estrela
Eu sonhei ser tua estrela
Iluminar o teu sorriso
Alegria é um sol que acende o teu olhar
Sim, eu sonhei sonhos da terra." (Paula Fernandes)
Eu nem sei como definir o que vc escreve. Não são meras palavras, é sua alma, seu desejo, é você com muita essência em forma de certas palavras.
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