quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Prece

"Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor.Que meus olhos saibam continuar se alargando sempre."

Caio Fernando Abreu

Que eu saiba alvorecer a cada pôr-do-Sol
Que cada fim tenha a beleza de um entardecer
Que eu saiba enxergar Lua Cheia e estrelas no meu anoitecer
Que cada aurora de um recomeço eu tenha força e não me deixe só

Que eu não abafe meus gritos
Que o meu silêncio não me apavore
Que a minha inquietude não me devore
Que eu não sufoque meus gemidos

Que eu enfeite com um riso o olhar que nublou
Que floresça lírios em meio aos espinhos
Que eu retire as pedras do meu caminho
Que eu desenhe um arco-íris no céu que a chuva molhou

Que nos meus invernos arda um verão dentro de mim
Que nos meus outonos eu possa enxergar a primavera
Que o vento sopre pra longe a dor que a alma dilacera
Que as lembranças não me doam mais tanto assim

Que as lágrimas que escorrem pela face banhem o coração
Que eu saiba me perder pra me encontrar
Que eu permita que as feridas o tempo possa cicatrizar
Que eu semeie em meu peito o perdão

Permita Senhor, que eu não me abandone, que eu não me fira, que eu não me perca no meu labirinto
Que o medo da solidão não me enlouqueça
Que a mesmice não me cegue, não me ensurdeça, não me paralise, não me emudeça
Que a minha incompletude preencha minha alma, que a minha fome alimente meus sonhos, que eu ultrapasse as fronteiras do meu ser finito.

3 comentários:

  1. Tem taanto tempo que não vejo o por do sol !...

    E qqr dia eu vou tentar ler o Caio Fernando de Abreu !

    Beiiiijos

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  2. Que linda construção. Como sempre!
    ______________________________

    Que a perigosa fronteira
    Entre felicidade e morte em vida,
    Permita-me desfrutar deste singular estado diferente.
    Embora ainda incompleto
    Sinto um pouco de vida externa querendo pulsar.
    A vida chama-me para a luz, embora uma luz fraca
    Enfadonha e sonolenta.
    Uns primeiros raios penetrantes revelam a desordem conseguida
    O desleixo por tudo que não seja nada além de ti.
    Os olhos ainda ardem pela amarga sentença imposta
    As mão permanecem trêmulas como um frágil ramo ao vento.
    Todos os ciclos dos sentimento, amarrados por tua essência
    Permanecem em voltas completas, apesar de algumas emoções corroerem as bordas.
    As passagens entre tuas vistas e ausências ainda sufocam.
    Um íntimo impulso perdura incessávelmente e alguns pensamentos induzem o renovar de algumas esperanças.
    Triste contemplação
    É tua distante aura de névoa.
    Meus braços ainda anseiam por guardarem-te
    Na mais absoluta certeza de felicidade.
    Clamo em silêncio
    Por algo maior que não compreendo.
    Simplesmente estar em teus olhos
    E permanecer na mais eterna totalidade do Ser.

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