terça-feira, 23 de junho de 2009

Distantes de nós

"Somos somente a fotografia.
Dois navegantes perdidos no cais
Distantes demais."
         
Lenine
     
Somos um presente que ficou perdido no ontem, um futuro sem amanhã. Somos um amontoado de velhas recordações, lembranças amarelecidas engavetadas na memória.
Somos a felicidade de um instante presa a um porta-retrato, eternidade breve emoldurada com os traços da saudade. Somos tudo o que passou, desconcertados pelo tempo.
Somos um começo sem fim, um conto sem ponto, sentimentos que ainda dançam no coração ao som da valsa do fim. Somos o silêncio da nossa indiferença, a distância entre a mágoa e o perdão.
Somos promessas não cumpridas, planos desfeitos, sonhos interrompidos, palavras sufocadas, paixão reprimida. Somos a canção esquecida num disco empoeirado, a rosa seca guardada entre as folhas de um livro aprisionando o aroma do momento, as cartas que abrigam o veludo das tuas palavras nunca mais ditas, um passado próximo, saudade inebriante.
Somos a pausa do instante, a história que se repete com os mesmos movimentos. Somos olhares, abraços, toque, afagos, sussurros, gargalhadas, beijos congelados pelas lentes imutáveis da memória.
Somos o amor ferido pelo tempo, excesso de ausência, vazio de presença. Somos desencontro, distantes de nós, perdidos de nós...
Há um hífen entre nós.

3 comentários:

  1. teu layout é a prova mais viva que não é preciso de muito para ter um canto bonito.


    #adoro!

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  2. Éramos um só
    Um único raio solar. Uma única gota de orvalho suspensa na cálida pétala de uma rosa.
    Éramos um sentido de tudo, o único motivo.
    Éramos a única verdade existente, a única cor presente. A primeira vida. O primeiro amor. O amor maior. O único. A obra prima da divindade. O supremo Ser. A estadia eterna. O Éden secreto.
    Éramos os sentidos perdidos. As noites mais longas e estreladas, que inspiraram os maiores poetas; a estrada mais completa do destino, caminho do alto.
    Um destino, um passado.
    Aprisionados nos registros temporais, cristalizados na memória das árvores. Um Presente que busca ainda esperanças, o verde raio que anima a passagem. Um futuro que era... o maior presente.
    Que é o maior presnte. Que preciso dar-te de presente. O meu presente. Nosso, eternamente.

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  3. ...E enquanto o vento quente carregava
    Essa canção pela noite
    Eu fechei meus olhos e esperei
    Até a luz da manhã...
    (LM)

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Dance com as palavras!