Do que eu fui

"Pedradas ao acaso acontece de partir pedaços ficando buracos, irreversíveis. Os cacos se perdem por aí..."
  
Maria Antônia de Oliveira

  

Cada decepção foi uma pedrada na alma, algumas deixaram cicatrizes superficiais, outras deixaram cicatrizes mais profundas, algumas levaram de mim um pedaço inteiro, deixando buracos completos de vazio... E outras, sei que jamais serão cicatrizadas...

Cada decepção estilhaçou o melhor de mim, ficando apenas alguns cacos daquilo que eu era, espalhando por aí cacos do que eu fui.

Às vezes encontro esses cacos que perderam-se de mim. Observo-os um a um, tentando lembrar de que resto de mim um dia fizeram parte.

Outra vez encontrei um caco verde esmeralda, estava perfumado de esperança, e tinha um brilho encantador, pertenceu a esse olhar, hoje, tão vazio e opaco.

Encontrei um caco vermelho intenso, refletia energia, nele pulsava paixão, pertenceu a esse coração, hoje, amargo, sem vida...

Encontrei também um caco furta-cor, recheado de lembranças boas, uma mais colorida que a outra, hoje, restam só lembranças descoloridas.

Outro dia encontrei um caco diferente. Alaranjado. Vibrante. Parecia um pôr-do-Sol espalhado pelo chão, partido em pedacinhos... Gostei da cor, trouxe-me uma força, uma vontade de continuar, de sonhar, de pintar-me de vida, deve ter pertencido a algum sonho interrompido.

Peguei esse caco, colei junto a mim e sai por aí, remendando a alma...